quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A LENDA DA FLOR DE LÓTUS


            Certo dia, à margem de um tranqüilo lago solitário, encontraram-se quatro elementos irmãos: o fogo, o ar, a água e a terra.
 - Quanto tempo sem nos vermos em nossa nudez primitiva - disse o fogo cheio de entusiasmo, como é de sua natureza.
 É verdade - disse o ar. - É um destino bem curioso o nosso. À custa de tanto nos prestarmos para construir formas e mais formas, tornamo-nos escravos de nossa obra e perdemos nossa liberdade.
 - Não te queixes - disse a água -, pois estamos obedecendo à Lei, e é um Divino Prazer servir à Criação.
 Por outro lado, não perdemos nossa liberdade; tu corres de um lado para outro, à tua vontade;
 o irmão fogo, entra e sai por toda parte servindo a vida e a morte.
 Eu faço o mesmo.
 - Em todo o caso, sou eu quem deveria me queixar - disse a terra - pois estou sempre imóvel, e mesmo sem minha vontade, dou voltas e mais voltas, sem descansar no mesmo espaço.
 - Não entristeçais minha felicidade ao ver-nos - tornou a dizer o fogo - com discussões supérfluas.
 É melhor festejarmos estes momentos em que nos encontrarmos fora da forma. Regozijemo-nos à sombra destas árvores e à margem deste lago formado pela nossa união.
 Todos o aplaudiram e se entregaram ao mais feliz companheirismo.
 Cada um contou o que havia feito durante sua longa ausência, as maravilhas que tinham construído e destruído.
 Cada um se orgulhou de se haver prestado para que a Vida se manifestasse através de formas sempre mais belas e mais perfeitas.
 E mais se regozijaram, pensando na multidão de vezes que se uniram fragmentariamente para o seu trabalho.
 Em meio de tão grande alegria, existia uma nuvem: o homem.
 Ah! como ele era ingrato.
 Haviam-no construído com seus mais perfeitos e puros materiais, e o homem abusava deles, perdendo-os.
 Tiveram desejo de retirar sua cooperação e privá-lo de realizar suas experiências no plano físico.
 Porém a nuvem dissipou-se e a alegria voltou a reinar entre os quatro irmãos. Aproximando-se o momento de se separarem, pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro.
 Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um deles harmonicamente combinados, fosse também a expressão de suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem.
 Houve muitos projetos que foram abandonados por serem incompletos e insuficientes
. Por fim, refletindo-se no lago, os quatro disseram:
 - E se construíssemos uma planta cujas raízes estivessem no fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela?

 - A idéia pareceu digna de experiência. 
Eu porei as melhores forças de minhas entranhas - disse a terra - e alimentarei suas raízes.
 - Eu porei as melhores linfas de meus seios - disse a água - e farei crescer sua haste.
 - Eu porei minhas melhores brisas - disse o ar - e tonificarei a planta.
 - Eu porei todo o meu calor - disse o fogo - para dar às suas corolas as mais formosas cores.
 Dito e feito.
 Os quatro irmãos começaram a sua obra. 
Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores.
 O sol abençoou-a e a planta deu entrada na flora regional, saudada como rainha. Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago em sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana. 


Um comentário:

  1. genial
    estou sem palavras para dizer o qnt gostei dessa lenda.
    ass:Samuel

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